O que é ser mãe de prematuro ?
Artigo escrito pela técnica de enfermagem da UTI Neonatal, Juliana de Lima Neves


18/11/2015 08:22:03 Iury Greghi NOTÍCIAS

A técnica de enfermagem da UTI Neonatal do HR, Juliana de Lima Neves, traduziu em lindas palavras o que representa esse momento na vida de uma mãe:

 

Mãe de prematuro

"Ser mãe de prematuro é ser pega pela surpresa e o desespero. É não segurar seu filho nos braços quando nasce. É olhar pela incubadora. É sentir sua cria pela ponta dos dedos embebidos de álcool em gel.

Ser mãe de prematuro é ser viciada no monitor. É ver seu filho respirando por aparelhos com sensores medindo o que há de vida em sua criança. São os benditos 90% de saturação. É tirar leite em bombinhas, seringas e ver o leite entrando por uma sonda. É torcer para a quantidade aumentar todo dia.

É ficar paranoica com ganhos e perdas de peso diário, num dia ganha 10 gramas, no seguinte perde 15. É se incomodar com as aspirações e manobras, mas saber que é um mal necessário. É ver picadas e mais picadas para exames e não respirar enquanto os resultados não saem. É chegar ao hospital com o estômago na mão com medo do que vai ouvir da Pediatria.

Para ser mãe de UTI tem que virar pedinte e mendigar todo dia uma boa notícia, mesmo que seja a bendita palavrinha “estável”, significa que não melhorou, mas também não piorou. E não se esquecer de agradecer o xixi e o cocô de cada dia, sinal de que não tem infecção.

Mãe de prematuro também tem rotina UTI - casa, casa - UTI, sem descanso. E como é possível descansar?

Para ser mãe de prematuro é preciso muita fé, porque na hora do desespero é você e Deus. É joelho no chão em meio a tantas incubadoras para pedir um milagre, e só com fé. É ser rainha da impotência para ver o sofrimento e a dor de seu bebê e simplesmente não poder fazer nada, só confiar em Deus e nas mãos dos profissionais.

É bater um papo com seu filho através da incubadora, é ter lágrimas escorrendo pelo rosto todo dia por não poder beijar e abraçar esse ser maravilhoso.

Mas, ser mãe de prematuro é superação, é ter história para contar.

É receber alta da UTI com festa e lágrimas, e deixar por lá amigos eternos e preciosos (médicos, enfermeiros, técnicos...). Ser mãe de prematuro é ter medo do vento, resfriados do inverno e de hospitais. Toda mãe é um ser guerreiro por natureza, mas mãe de prematuro precisa ser guerreira em dobro, e isso nos difere e ao mesmo tempo nos iguala. Lutadoras, perseverantes, frágeis a ponto de desabar a qualquer momento, mas com uma força absurda, uma força talvez que venha de um útero vazio antes do tempo.

Assim somos nós, mães de bebês que nascem antes do tempo. Uma luta que venci e venço até hoje graças a Deus, pois trabalho em uma UTI neonatal, vendo o sofrimento e a superação de cada mãe." 

Juliana de Lima Neves, 28 anos - técnica de enfermagem do HR, mãe do Samuel, hoje com 2 anos e meio.

 


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